Olá, seguidores do Ajuda MEI!
Como anunciado no post da semana passada, vamos conversar durante mais 3 encontros sobre questões ligadas ao nosso dia-a-dia de Empreendedores. E, para o nosso papo de hoje, quero abordar um tema que é bastante discutido, controverso e instigante. Quero falar sobre o papel das lideranças.
Não importam o tamanho ou o capital social do negócio; não faz diferença se a natureza jurídica é do tipo MEI ou se uma S.A.. Onde quer que haja um CNPJ ativo, existe um indivíduo que se senta em uma cadeira que lhe confere certo prestígio e também poder, ouvindo diferentes interlocutores, negociando, definindo ações e tomando decisões. Seja em nível estratégico, tático ou operacional, essa pessoa exerce a liderança sobre seus pares e, de acordo com a forma como ela se posicionar, dependendo da forma como se comunicar e agir, à ela caberão o ônus e o bônus do papel que assumiu na empresa, frente aos colaboradores e fornecedores, aos Bancos, aos fiscais e até à Receita Federal. Cá entre nós, se soubéssemos disso, com a devida antecedência, pensaríamos muito mais antes de atrelar os nossos CPFs ao banco de dados do Leão, não é não?!?
Enquanto líderes, se tudo estiver correndo como planejado na Missão e Visão que estabelecemos, se o time estiver afinado e os resultados estiverem pelo menos empatando com o que foi previsto… a sensação é de realização e prazer. Mas, dependendo do nível de pressão e de estresse envolvidos na rotina do trabalho e seus desdobramentos, é inevitável pararmos em frente ao espelho e nos perguntarmos “o que é que eu estou fazendo aqui?” Quem nunca???
E aí, leio o capítulo intitulado “O poder e a fragilidade”, do livro “O único e o singular”, de Paul Ricoeur, onde esse autor fala sobre 3 conceitos que caracterizam a modernidade: poder, mais poder e, consequentemente, mais fragilidade. Bem, ele afirma que “onde há poder, há fragilidade”. E onde há fragilidade, ele diz, há responsabilidade. E era este o ponto onde eu queria chegar, desta vez… no poder e na fragilidade das lideranças, bem como na responsabilidade resultante dessa combinação.
Um outro autor, Hans Jonas, no livro ‘Princípio Responsabilidade’, no capítulo IV , aborda o tema ‘dever do poder’. Ele diz que há uma noção de responsabilidade que tem a ver com “a determinação do que se tem a fazer”, não pelo que queremos fazer, mas por querermos o bem-estar dos outros. Vocês entenderam isso do jeito que eu entendi??? O cara diz que todos temos a noção de que somos responsáveis uns do bem-estar do outro… Temos responsabilidade em lidar não apenas com a nossa fragilidade, mas, igualmente, em lidar com a fragilidade dos nossos liderados. É isso mesmo?
Mas… peraí… se a vida já não está fácil, se tantas vezes seguimos a lógica do “vender o almoço para comprar a janta”, se não damos conta das nossas próprias necessidades, como nos sentirmos responsáveis pelo outro??? E a única resposta possível é…SENTINDO! Dá seu jeito, seja forte, resiliente, crie empatia, assuma sua responsabilidade, torne-se o ‘antifrágil’ (já ouviram essa expressão?) e assuma o dever que o poder lhe confere!
Esse senso de responsabilidade pelas fragilidades, que o poder nos imputa, me faz lembrar os períodos mais críticos que vivi na empresa, especialmente a partir da expectativa de mudança de cenário político em 2003 e da crise econômica mundial em 2008. Aquelas foram épocas em que, praticamente, não havia mais barreiras de entrada no nosso segmento. Já com mais de 30 anos de atuação e com uma estrutura inchada,
fomos perdendo cada vez mais market share e os colaboradores para uma concorrência cada vez nova, enxuta e capilarizada. Inovar na comunicação e investir em tecnologia para atrair novos clientes eram desafios diários. Tudo parecia difícil e todo objetivo inatingível. E, além de uma marca reconhecidamente de qualidade e tradicional, tínhamos porteiros, faxineiros, auxiliares administrativos e um monte de gente que dependia de aguentarmos o tranco e seguir em frente, fazendo a ‘roda girar’. Não dava para jogar a toalha! Sacrifiquei as viagens de férias, um apartamento, alguns carros e o CPF em empréstimos e dívidas fiscais. Mas de uma coisa eu nunca abri mão: de manter os salários, férias e 13º salários dos nossos funcionários acima da média de mercado e religiosamente pagos em dia. A única certeza que eu tinha, naquela altura, é que eles – os nossos frágeis colaboradores – eram responsáveis por prestar o serviço que oferecíamos e eu por mantê-los dignamente recompensados por isso.
Claro que não dava para seguir com o status quo. Íamos quebrar, era evidente, e era hora de deixar de mi-mi-mi e tomar decisões, arcando com o ônus de estar à frente do negócio. Não podendo mais contratar profissionais de peso e não querendo ceder no quesito qualidade, recuamos e reduzimos, lenta e gradativamente, em todos os sentidos. Mudamos não apenas de endereço mas também de modelo de negócio. Trocamos 450m 2 de área ocupada por pouco mais de 50m 2 . Ao invés de trabalharmos com grupos de 15 a 20 pessoas, optamos por adotar a estratégia de negócio one-to-one, oferecendo um serviço individualizado e personalizado, no tempo e no ritmo de cada cliente. Da empresa finalista do prêmio MPE Brasil, em 2010, mantivemos o compromisso de oferecer excelência no serviço contratado, em um ambiente pra lá de aconchegante e confortável, onde cada cliente, utilizando equipamentos e material
sempre atualizados, paga um tíquete médio um pouco acima do praticado pela concorrência e é atendido em suas necessidades, com exclusividade e competência.
Com coragem e planejamento, no pior momento de crise, nos agarramos às oportunidades que passamos a enxergar. E o resultado??? Bem, o resultado é que conseguimos atravessar o período de transição com determinação e em segurança. A marca segue consolidada e os clientes indicando novos clientes, fazendo com que os indicadores de satisfação – deles e nossos – estejam muitíssimo melhores do que eram, 6 anos atrás.
Se eu puder deixar um recado a você que me lê agora é: não se iluda com o poder que o papel de líder lhe confere! Antes, pense na responsabilidade que você terá ao lidar com as tantas fragilidades, não apenas pessoais, mas de tantos atores envolvidos no seu negócio. Pense que você será responsável pelas tomadas de decisão, mas, igualmente, pelo bem-estar dos que estão à sua volta. A parte boa dessa história é que, com um bom conhecimento do seu negócio, do mercado e das necessidades dos seus stakeholders, você tem enormes chances de acertar e seguir adiante, de cabeça erguida e alma lavada, sentindo o prazer incrível que a certeza de ‘ter feito a diferença’ nos confere. Vale a pena experimentar – eu garanto!
Até semana que vem!
